Vanessa espantou-se ao vê-lo de perto em jeans desbotado, tênis e um agasalho verde-escuro. Ela aprovou. Nele, o tradicional jeans desbotado ganhava um charme novo.
— E também trouxe o carro esporte solicitado. — Zac estalou um beijo na ponta do nariz dela.
— O que passou pela sua cabeça para achar que as minhas coisas caberiam num carro esporte! — Vanessa riu e mostrou com o braço a pilha de coisas pacientemente trazidas escada abaixo.
Zac passeou pela casa, examinando a coleção de pertences dela, com uma expressão de quem aceitara a brincadeira.
— E quem disse que acreditei na historinha da mulher com pouca bagagem? O meu motorista está estacionado lá fora com um muito mais sensato Range Rover. Podemos segui-lo na Ferrari.
Vanessa titubeou, mas cedeu. Por que se incomodar com aquilo? Zac estava certo ao opinar que ela precisava aprender a ignorar o orgulho e aceitar ajuda. E era uma grande ajuda tê-lo ali para auxiliar na mudança. Frankie se ofereceu, mas Vanessa achou importante não aceitar. Mudar-se da casa dele representava o início de uma nova vida. Frankie não insistiu. Na verdade, aparentou alívio e disse algo sobre arrumar as próprias coisas, mas não entrou em detalhes.
Vanessa sorriu:
— Tudo bem.
— Você vai e espera no carro. Eu e George vamos levar as coisas para a caminhonete. Há algo que você queira levar com você?
— Apenas a minha mochila. — Ela afastou-se, enquanto Zac media com os olhos tudo que teria de ser transportado. Vanessa tentou conter o prazer de passar para ele o controle das ações. Receber cuidados, em vez de cuidar de alguém o tempo inteiro, representava uma mudança enorme.
Obediente, ela foi para a Ferrari e observou Zac e o motorista descarregaram a bagagem no jipe 4x4. Depois, seguiram devagar, devido ao tráfego intenso no centro de Londres, rumo ao novo lar.
O empreendimento seria o maior no gênero, e a campanha publicitária orgulhosamente anunciava as vantagens de morar ao sul do rio Tâmisa. O projeto englobava suítes privadas, escritórios, um andar inteiro de academias de ginástica, vários salões de beleza, espaços para conferência, estacionamento no subsolo e uma sala de cinema para uso exclusivo dos residentes. Tudo isso construído em volta de uma área central aberta e gramada.
Vanessa descrevia tudo em detalhes, até perceber que ela conduzia um monólogo, e não uma conversa.
— Você não precisava vir e me ajudar — disse ela, colocando o orgulho de volta no lugar.
— Eu sei. — Zac sabia exatamente no que Vanessa estava pensando. Entusiasmada, ela detalhara a grande oportunidade que tinha, só para esbarrar no muro de silêncio dele.
Mais cedo ou mais tarde, Zac teria que lhe contar. Ele se contraía de preocupação diante desta perspectiva. Não era a hora ainda de falar. Esperaria ela se sentir segura no emprego, capaz de aceitar a verdade com moderação, talvez com bom humor.
Zac não dava corda para que Vanessa prolongasse a conversa. Como alternativa, ele puxava papo sobre as atualidades de Londres, perguntava-lhe sobre os colegas do antigo trabalho na boate, se ela sentia falta de alguém, se mantinha contato com o pessoal. Em alguns minutos, a tensão evaporava do corpo dele.
Eles já podiam avistar do carro o empreendimento, de modernidade suntuosa e irreverente, dominando o horizonte.
Zac passou com a Ferrari por um arco direto para a área central, contornada com vagas para os carros dos visitantes.
— Qual é o apartamento? — indagou ele, admirando o edifício com satisfação profissional. — Certo. Você sobe, e eu e George a seguimos com as coisas.
Vanessa ainda fazia, extasiada, o reconhecimento dos seus novos domínios, quando a última mala surrada bateu contra o piso do apartamento.
— Não é fantástico? — Ela caminhou até a janela para contemplar a vista incrível da cidade: rio, pontes, carros e pessoas aglomerados como brinquedos em movimento.
— Onde você vai dormir, meu Deus?
Vanessa reagiu com uma cara de perplexa, como se Zac estivesse fora de si.
— No chão, é claro. Como você vê, não há um só móvel, e eu não tinha nenhum para trazer comigo.
— No chão? — A expressão de Zac transbordava de incredulidade.
— Num saco de dormir. — Vanessa reformulou a resposta. — Velho, mas ainda útil. E trouxe um travesseiro. Não há por que ficar parado aí como se estivesse atuando num filme de terror. Você pode achar a idéia de um saco de dormir inconcebível, mas eu, não.
— Quem sabe ao se ajeitar nele você não descubra que o chão é mais duro do que você pensa? — Não havia nem passado pela cabeça de Zac que o apartamento não era mobiliado. Ele deveria ter insistido que Vanessa morasse com ele até que eles pudessem equipar a casa com pelo menos os utensílios mais rudimentares. Imediatamente, ele se questionou. Que diabos estava pensando? Morar com ele? Ele quase riu em alto e bom som do absurdo da hipótese que brotou do nada nas suas idéias.
— Eu conheço sacos de dormir, Zac. — Vanessa, de braços cruzados, recostava-se no parapeito da impressionante janela de três faces, que avançava para além da parede. — Eu já acampei diversas vezes, coisa que acredito você nunca fez. — Por mais que estivessem próximos, era difícil acomodar as diferenças entre dois. A cada contraste banal que surgia, Vanessa se dava conta de quão diferentes eram os dois.
— Nós vamos ter que arrumar alguns móveis para você — reagiu Zac. — Ninguém pode esperar que você viva assim. Por que você não trouxe mais algumas coisas da casa? — perguntou ele.
— Porque elas não me pertenciam. Porque eu poderia ter sido acusada de roubo.
— E ele nunca ofereceu nada a você? Apesar do fato de você ter passado anos pagando as contas? Nós podemos ir à Harrods e comprar algumas coisas. Umas cadeiras, uma mesa, um tel...
— Espere aí! — Será que ele pensava que poderia de certa forma comprá-la? Desejo sexual era uma coisa. Equipar a casa para ela estava fora de questão. A conversa invadia um mundo totalmente diferente do qual eles haviam concordado em dividir. Vanessa ficou zonza ao especular como seria receber presentes por amor, com a força que poderia ter tal gesto. Ela piscou os olhos uma ou duas vezes para recobrar-se.
— Você não vai comprar nada para mim. Se quiser alguma coisa, eu vou economizar para comprar.
— Pelo amor de Deus, Nessa. Eu posso...
— Esqueça. Eu não aceitarei nada de você, não vou viver com a idéia de que você de alguma maneira conseguiu me comprar.
Ficou mais do que claro para Zac o brilho de determinação nos olhos dela, e ele recuou. Preferiu não pensar no caos que a sua própria criação poderia resultar. Não. Organizaria a situação quando chegasse o momento propício, pois nunca tivera problemas em consertar qualquer coisa antes.
— Tudo bem — concordou ele, mais sensual. — Um almoço passaria no seu teste de orgulho?
Vanessa exibiu um meio sorriso, involuntário.
— Seguida por uma festinha para dois no novo apartamento?
Como ela resistiria? Vanessa havia sido tão forte quando o conhecera. Tinha consciência de que ele era um homem de um planeta diferente. Quando Zac desenvolveu o talento para vencer a resistência dela? E quanto tempo levaria, Vanessa se perguntava, alarmada, para que ela perdesse toda a imunidade a ele?
CONTINUA ->
ahhhh, amei, d+
ResponderExcluirposta logo
bjoka