quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Capitulo 21 ♥

Vanessa espantou-se ao vê-lo de perto em jeans desbotado, tênis e um agasalho verde-escuro. Ela aprovou. Nele, o tradicional jeans desbotado ganhava um charme novo.
— E também trouxe o carro esporte solicitado. — Zac estalou um beijo na ponta do nariz dela.
— O que passou pela sua cabeça para achar que as minhas coisas caberiam num carro esporte! — Vanessa riu e mostrou com o braço a pilha de coisas pacientemente trazidas escada abaixo.
Zac passeou pela casa, examinando a coleção de pertences dela, com uma expressão de quem aceitara a brincadeira.
— E quem disse que acreditei na historinha da mulher com pouca bagagem? O meu motorista está estacionado lá fora com um muito mais sensato Range Rover. Podemos segui-lo na Ferrari.
Vanessa titubeou, mas cedeu. Por que se incomodar com aquilo? Zac estava certo ao opinar que ela precisava aprender a ignorar o orgulho e aceitar ajuda. E era uma grande ajuda tê-lo ali para auxiliar na mudança. Frankie se ofereceu, mas Vanessa achou importante não aceitar. Mudar-se da casa dele representava o início de uma nova vida. Frankie não insistiu. Na verdade, aparentou alívio e disse algo sobre arrumar as próprias coisas, mas não entrou em detalhes.
Vanessa sorriu:
— Tudo bem.
— Você vai e espera no carro. Eu e George vamos levar as coisas para a caminhonete. Há algo que você queira levar com você?
— Apenas a minha mochila. — Ela afastou-se, enquanto Zac media com os olhos tudo que teria de ser transportado. Vanessa tentou conter o prazer de passar para ele o controle das ações. Receber cui­dados, em vez de cuidar de alguém o tempo inteiro, representava uma mudança enorme.
Obediente, ela foi para a Ferrari e observou Zac e o motorista descarregaram a bagagem no jipe 4x4. Depois, seguiram devagar, devido ao tráfego intenso no centro de Londres, rumo ao novo lar.
O empreendimento seria o maior no gênero, e a campanha publi­citária orgulhosamente anunciava as vantagens de morar ao sul do rio Tâmisa. O projeto englobava suítes privadas, escritórios, um andar inteiro de academias de ginástica, vários salões de beleza, espaços para conferência, estacionamento no subsolo e uma sala de cinema para uso exclusivo dos residentes. Tudo isso construído em volta de uma área central aberta e gramada.
Vanessa descrevia tudo em detalhes, até perceber que ela conduzia um monólogo, e não uma conversa.
— Você não precisava vir e me ajudar — disse ela, colocando o orgulho de volta no lugar.
— Eu sei. — Zac sabia exatamente no que Vanessa estava pen­sando. Entusiasmada, ela detalhara a grande oportunidade que tinha, só para esbarrar no muro de silêncio dele.
Mais cedo ou mais tarde, Zac teria que lhe contar. Ele se con­traía de preocupação diante desta perspectiva. Não era a hora ainda de falar. Esperaria ela se sentir segura no emprego, capaz de aceitar a verdade com moderação, talvez com bom humor.
Zac não dava corda para que Vanessa prolongasse a conversa. Como alternativa, ele puxava papo sobre as atualidades de Londres, perguntava-lhe sobre os colegas do antigo trabalho na boate, se ela sentia falta de alguém, se mantinha contato com o pessoal. Em alguns minutos, a tensão evaporava do corpo dele.
Eles já podiam avistar do carro o empreendimento, de modernida­de suntuosa e irreverente, dominando o horizonte.
Zac passou com a Ferrari por um arco direto para a área central, contornada com vagas para os carros dos visitantes.
— Qual é o apartamento? — indagou ele, admirando o edifício com satisfação profissional. — Certo. Você sobe, e eu e George a seguimos com as coisas.
Vanessa ainda fazia, extasiada, o reconhecimento dos seus novos domínios, quando a última mala surrada bateu contra o piso do apar­tamento.
— Não é fantástico? — Ela caminhou até a janela para contemplar a vista incrível da cidade: rio, pontes, carros e pessoas aglomerados como brinquedos em movimento.
— Onde você vai dormir, meu Deus?
Vanessa reagiu com uma cara de perplexa, como se Zac estivesse fora de si.
— No chão, é claro. Como você vê, não há um só móvel, e eu não tinha nenhum para trazer comigo.
— No chão? — A expressão de Zac transbordava de increduli­dade.
— Num saco de dormir. — Vanessa reformulou a resposta. — Ve­lho, mas ainda útil. E trouxe um travesseiro. Não há por que ficar parado aí como se estivesse atuando num filme de terror. Você pode achar a idéia de um saco de dormir inconcebível, mas eu, não.
— Quem sabe ao se ajeitar nele você não descubra que o chão é mais duro do que você pensa? — Não havia nem passado pela cabeça de Zac que o apartamento não era mobiliado. Ele deveria ter insis­tido que Vanessa morasse com ele até que eles pudessem equipar a casa com pelo menos os utensílios mais rudimentares. Imediatamente, ele se questionou. Que diabos estava pensando? Morar com ele? Ele quase riu em alto e bom som do absurdo da hipótese que brotou do nada nas suas idéias.
— Eu conheço sacos de dormir, Zac. — Vanessa, de braços cru­zados, recostava-se no parapeito da impressionante janela de três fa­ces, que avançava para além da parede. — Eu já acampei diversas vezes, coisa que acredito você nunca fez. — Por mais que estivessem próximos, era difícil acomodar as diferenças entre dois. A cada con­traste banal que surgia, Vanessa se dava conta de quão diferentes eram os dois.
— Nós vamos ter que arrumar alguns móveis para você — reagiu Zac. — Ninguém pode esperar que você viva assim. Por que você não trouxe mais algumas coisas da casa? — perguntou ele.
— Porque elas não me pertenciam. Porque eu poderia ter sido acusada de roubo.
— E ele nunca ofereceu nada a você? Apesar do fato de você ter passado anos pagando as contas? Nós podemos ir à Harrods e com­prar algumas coisas. Umas cadeiras, uma mesa, um tel...
— Espere aí! — Será que ele pensava que poderia de certa forma comprá-la? Desejo sexual era uma coisa. Equipar a casa para ela estava fora de questão. A conversa invadia um mundo totalmente diferente do qual eles haviam concordado em dividir. Vanessa ficou zonza ao especular como seria receber presentes por amor, com a força que poderia ter tal gesto. Ela piscou os olhos uma ou duas vezes para recobrar-se.
— Você não vai comprar nada para mim. Se quiser alguma coisa, eu vou economizar para comprar.
— Pelo amor de Deus, Nessa. Eu posso...
— Esqueça. Eu não aceitarei nada de você, não vou viver com a idéia de que você de alguma maneira conseguiu me comprar.
Ficou mais do que claro para Zac o brilho de determinação nos olhos dela, e ele recuou. Preferiu não pensar no caos que a sua própria criação poderia resultar. Não. Organizaria a situação quando chegas­se o momento propício, pois nunca tivera problemas em consertar qualquer coisa antes.
— Tudo bem — concordou ele, mais sensual. — Um almoço pas­saria no seu teste de orgulho?
Vanessa exibiu um meio sorriso, involuntário.
— Seguida por uma festinha para dois no novo apartamento?
Como ela resistiria? Vanessa havia sido tão forte quando o conhece­ra. Tinha consciência de que ele era um homem de um planeta dife­rente. Quando Zac desenvolveu o talento para vencer a resistência dela? E quanto tempo levaria, Vanessa se perguntava, alarmada, para que ela perdesse toda a imunidade a ele?

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