terça-feira, 19 de outubro de 2010

capitulo 15 ♥

— Você vai me convidar para entrar, ou a gente precisa ficar se olhando aqui por mais alguns minutos?
Aquela voz blasé e suave! A mesma que lhe invadia os sonhos todas as noites, a mesma com a qual conversava em seus pensamen­tos, contando tudo o que se passava na vida dela.
— Perdão. — Vanessa deu dois passos para trás. Em vez de seguir em direção à sala, Zac entrou e esperou que ela fechasse a porta.
— Você está... diferente — murmurou ele examinando-a. Parecia que anos se passaram desde a última vez que a vira. Zac havia se contido para não visitá-la antes. Seja lá o que tivesse saído do acerto de contas entre Vanessa e Frankie, o resultado ainda estaria muito re­cente para que ela tolerasse vê-lo.
Zac não se dispusera a correr o risco de afugentá-la. Não após se convencer de que a teria, não importa as circunstâncias ou conse­qüências. E a teria de acordo com as regras dele, isto é, queria a livre concordância de Mattie, e não que a mulher se sujeitasse a ele pelo fato de o corpo dela, temporariamente, não obedecer à mente. Vanessa tinha que se entregar por inteiro, sem nenhum drama de consciência.
Para isso ele precisara esperar.
— Diferente? — Vanessa sorriu, um pouco nervosa. — Eu aparei o meu cabelo. — Você não gostou?, quis perguntar. — Os cabelos longos estavam OK para a boate, mas... Bem, na verdade, eu não trabalho mais lá... Minha última noite foi na semana passada.
Zac olhou para baixo por uma fração de segundo, antes de abrir um sorriso para ela.
— Eu suponho que um monte de coisas aconteceu com você. Por que não jantamos juntos para você me contar tudo?
O convite despertou todas as velhas dúvidas em relação a ele, mas de imediato elas foram dando lugar a uma sensação que Vanessa não experimentara ainda na presença de Zac, um sentimento de auto-estima.
— Claro. Por que não? — Ela reparou no que vestia e deu uma risada. — Fast-food em algum lugar, ou devo me vestir de forma mais apresentável?
— Fast-food?
— Sim, você sabe do que eu estou falando. Pedaços de frango empanados, batatas fritas meio moles, talheres de plástico, letreiros lu­minosos, fila no caixa... — Zac fez uma cara de tão chocado com a possibilidade que Vanessa se conteve para não gargalhar.
— Uma garrafa de Chablis, salmão, pommes frites...
— Em outras palavras, peixe com fritas.
— Mas com prato e talheres para gente grande. — Zac sorriu. — Conheço um lugar excelente para se comer frutos do mar. Você gosta de frutos do mar?
— Minha comida preferida. Eu vou mudar de roupa. Por que você não entra e me espera na sala? Frankie...
Zac observou o lamento cruzar o rosto dela e ansiou, aflito, que longe dos olhos significasse neste caso longe também do coração.
— Frankie não vai interromper porta adentro...
Ela vestiu-se com rapidez e cuidado. Nada sexy, nada que lem­brasse a garçonete que ela havia sido. Chique, a elegância que ela podia sustentar com o seu orçamento limitado.
Uma saia preta justa, mas que chegava até os joelhos, uma camise­ta de seda rosa, combinando com o casaquinho, sapatos pretos de salto baixo, comprados para o novo emprego, meia-calça preta, pois o verão se despedia e o vento frio voltara há poucas semanas.
Quando Vanessa finalmente se pôs de frente ao espelho, seus olhos brilhavam, inquietos. Voltou à sala, sentindo-se como uma adoles­cente em seu primeiro encontro.
Zac não sentara. Perto da janela, tinha as mãos nos bolsos da calça. No momento que Vanessa reapareceu, ele virou-se para vê-la chegar.
— Melhor? — perguntou Vanessa nervosa. Muito nervosa! — Ou eu devo usar a minha tiara de diamantes?
— A tiara poderia ficar um pouquinho exagerada. — Meu Deus, ela estava deliciosa, pensou Zac. O cabelo mais curto combinou bem, lhe deu uma beleza mais refinada, ainda mais tentadora.
— Então — murmurou ele, logo após os dois entrarem no carro e partirem para Chiswick. — Não mais, Frankie?
— Não mais, Frankie.
— Feliz? — Ele gostaria de poder prestar atenção nela, monitorar-lhe as expressões para avaliar o que passava naquela cabeça. Precisa­va, contudo, se concentrar no volante. Ela representava uma distra­ção até para os motoristas mais cuidadosos.
— Sim e não.
— O que isso significa? — As mãos dele espremeram a direção, mas Zac manteve o tom de voz equilibrado.
— As coisas não andavam bem entre nós. Quero dizer, é bom que... que ambos tenhamos chegado à mesma conclusão, mas... ele foi parte da minha vida por muito tempo, eu preciso ainda me acostumar... — Vanessa abria o coração. — Ele me deixou ficar na casa até que eu ache um lugar para ficar... e adivinha o quê?
— O quê?
— Me ofereceram um emprego e... — Ela fez uma pausa para fazer um suspense sobre o que contaria em seguida. — Como parte do contrato, eles me ofereceram um apartamento! Você acredita nis­so? Eu não pude. A empresa está liderando a campanha publicitária de um empreendimento enorme no sul de Londres. Apartamentos, academias, lojas, um montão de coisas! E, enquanto estiver envolvi­da com o marketing, a minha companhia tem o direito de alojar seus empregados em alguns apartamentos do empreendimento. Tudo aconteceu no momento certo. Não é fantástico?
— Fantástico. — Ele sentiu uma pontada de culpa, mas se conso­lou com o fato de que Vanessa chegaria lá, de qualquer maneira. Ela era dedicada. Caso contrário, como terminaria o curso enfrentando tan­tos problemas? E ela era talentosa também. A melhor aluna da facul­dade desde que colocou pela primeira vez o pé na sala de aula.
— Você não parece muito feliz por mim. — E isso feria Vanessa.
— Eu estou imensamente feliz por você — cortou Zac. — Como Frankie reagiu depois que fui embora?
— Não da maneira que esperei. Você me acha capaz de dar conta desse emprego, não acha?
— Se você é capaz de estudar de dia e trabalhar à noite, você está capacitada para ser a primeira-ministra do país.
— É, bem, acho que o fator experiência não conta a meu favor.
— O que você quis dizer com "não da maneira que esperei"?
— Ele não deu nenhum ataque de ciúmes, muito pelo contrário. Resignou-se. Na verdade, foi ele quem terminou tudo.
Melhor assim, pensou Zac. Desse modo, ela nunca vai ficar imaginando o que poderia ter sido. Ele a queria livre, livre para ele.
O restaurante apareceu diante deles, sem que Zac se desse con­ta de que eles haviam chegado. A fachada antiga e charmosa contras­tava com o interior do lugar. Ao entrarem, Zac pôde ouvir Vanessa tomar fôlego para assimilar o ambiente luxuoso. Muito vidro na de­coração, muito cromo, e pessoas bonitas, que se achavam mais vir­tuosas quando comiam peixe em vez de carne vermelha.
— Não diga isso. — Zac curvou-se para adverti-la, e Vanessa sentiu o sussurro quente junto à nuca.
— Não diga o quê?
— Que este não é o tipo de lugar que você costuma ir.
— Este não é o tipo de lugar que eu costumo ir — informou ela, como se cumprisse uma obrigação. No entanto, ninguém ali notaria. Para vanessa, foi como entrar no futuro brilhante que a esperava, um presente de Natal aguardando para ser desembrulhado.
Vanessa teve a impressão de que Zac podia ler os seus pensamen­tos e se alegrava com a conclusão a que ela chegava. A conclusão de que as fronteiras entre as pessoas só existiam na cabeça dela.

continua... ->

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